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Tuesday, April 27, 2004

PARA A ESTRELINHA

Muitas vezes não valorizamos o que temos ou não apreciamos o que vemos todos os dias. Vou contar-vos a história do mineiro e da Estrelinha.
A Estrelinha com a sua luz iluminava, noite e após noite, todo o recinto contíguo a mina. Espaço aberto e desprovido de árvores, apenas as ferramentas usadas pelo mineiro e ele próprio jaziam naquela clareira. O mineiro todas as noites irritava-se com o excessivo brilho da Estrelinha porque expunha, para aos curiosos, os seus velhos quase inúteis bens. Irritava-o profundamente aquela aberração que o impedia de adormecer, ele que se habituara a escuridão da mina, onde passava dias inteiros sem nunca ver a luz do dia, mas quando o sol se punha, lá estava ela de novo. Insistente e teimosa, a Estrelinha dava-lhe espertina nocturna como se lhe quisesse, a força, encher a sua vida e coração de luz. Ele era um solitário, tinha-se esquecido como era viver e conviver com a luz da alegria que só quem ama conhece. Ele já não amava ninguém há muito tempo, há quase vinte longos anos que tinha deixado de ter fé nessa magia. Ocupava os seus dias na mina que assim como ele possuía duas característica, obscuridade e isolamento da vida.
O mineiro sempre achou a Estrelinha despropositada.
Como habitualmente era apenas mais um dia de trabalho. O túnel era novo e o mineiro tinha encontrado uma pepita de ouro logo nos primeiros metros. A excitação era muita e a ânsia de escavar fez com que ele descorasse as regras de segurança. Escavava freneticamente já se imaginava rico e apenas pensava que todos aquele anos de sacrifícios tinham valido a pena e que finalmente se iria esquecer e livrar-se daquela Estrelinha.
Enquanto cogitava quase na penumbra aconteceu o inesperado, a derrocada.
Ele apenas se lembra de um estrondo, nada mais. Não se lembra de quanto tempo ficou inanimado e quando recuperou os sentidos sentiu-se num túmulo. Escuridão, pedras, húmidade, ar quase irrespirável. Seria dia ou noite?. Foi tacteando a procura desenfreadamente de uma saída. Deve tê-lo feito durante horas, a vida escapava-lhe por aquilo que outrora tinha sido dedos e que agora eram bocados de carne viva. A esperança foi-se e em seu lugar chegou o desespero. Deixou-se ficar prostrado e rendeu-se ao seu destino. A morte esperava- o. Desfaleceu mais uma vez. Quase no limite das forças abriu os olhos, viu uma luz ténue ao longe imaginou que tinha morrido e aquela era a luz do paraíso. Enganara-se. Sentiu dores, os seus dedos ardiam, ele estava vivo. Aos poucos foi-se apercebendo dos contornos. A derrocada tinha aberto uma cratera. Era noite e a Estrelinha brilhava mais que nunca, como se lhe indicasse a saída do jazigo. Ela cintilava tentando mostrar-lhe o caminho para a vida guiando seu os passos.
Ele sempre fora um insensível, um ingrato. Sempre criticara e desprezara a Estrelinha, a sua única e fíel companhia nocturna. Mesmo assim ela iluminou-o e velou o seu sono todas as noites e agora, depois de tudo, salvou da morte.
Em sua memória e para que o mundo conhecesse a gratidão que o mineiro tinha para com a Estrelinha ele dedicou-lhe uma linda canção:
“...seus olhos meu clarão me guiam dentro da escuridão, seus pés me abrem o caminho eu sigo e nunca me sinto só, você é assim um sonho para mim ....”


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